quarta-feira, 1 de junho de 2011

O velho Oeste nunca mais será o mesmo...

***Para dar um gostinho, texto inédito do meu segundo livro "No Vermelho" (que está quase pronto)...




Imagine-se no bar. Uma bebida forte, quem sabe um leite integral (desnatado é para mocinhas). Quando entra um homem estranho. Você continua comendo seu Sucrilhos e nem olha:

-Onde está o Xerife!

Nenhuma reação. Todos no bar parecem não ver o valentão:

-Eu perguntei onde está o Xerife!

Um senhor apoiado no balcão se vira e encara o estrangeiro. Ele não precisa se identificar, a estrela no peito já revela:

-O que você quer?

O valentão dá um sorriso amarelado usando apenas um lado da boca:

-Estou procurando alguém corajoso o bastante para duelar comigo e me disseram que você é o mais rápido da cidade.

O Xerife vira a bebida em um gole só e bate o copo no balcão, deixando a vista um bigodinho de nata de leite:

-Então vamos logo com isso. Quero ver o Jackie Chan na Sessão da Tarde.

Eles vão para a frente do bar e são acompanhados pelos cachaceiros que não tem nada melhor para fazer no horário do Vale a pena ver de novo. Você se assusta com o risco de bala perdida e olha por uma brecha na janela suja:

-Vocês não tem medo de saírem baleados do duelo deles?

Um dos cowboys curiosos responde com um sorriso:

-Eu não. Vim foi do Rio. Já vi coisa pior. Pelo menos aqui não tem gás lacrimogêneo.

Pelo vidro empoeirado você olha os dois. O Xerife com um ar de experiente. Com um físico de Seu Madruga e um bigodão de Mario Bros. Devia estar com calor debaixo daquela camisa social branca com listras pretas. Um colete por cima dava o espírito de Faroeste Caboclo.

Realmente ele tinha uma voz que lembrava o Renato Russo.
O adversário, de costas para o Xerife, tinha uma cicatriz na face. Algo que nem o Doutor Hollywood seria capaz de corrigir. Uma barba de náufrago. Sua cara passava medo à população da cidade. Parecia não ter medo de nada. Sem sentimentos, sem pureza no olhar.

Eles começam a andar, distanciando-se cada vez mais. A cada passo o som surreal das esporas. Um movimento brusco e um estouro de pólvora. Você fechou os olhos e não viu o resultado. Ao abri-los os dois continuam de pé. Um clímax, ninguém se move:

-E aí? Quem morreu?

Ninguém responde. Todos continuam curiosos. O Xerife se toca procurando um buraco de bala. A mão cheia de sangue afirmava o que antes era suspeita. Caiu de joelhos e olhou para o seu oponente. O valentão tentava se manter em pé, mesmo com o peito ensaguentado. Antes de cair por completo o chefe da cidade disse em voz alta para todos os curiosos:

-Mas que merda. Quem inventou essa forma boba de duelo?

A platéia volta para o bar e bebe como se nada tivesse acontecido. O garçom se estressa:

-Vocês por acaso não viram o que aconteceu? O Xerife morreu. E agora? Vocês já pensaram nisso? E se aparecer outro valentão?

Todos ficaram em silêncio. Logo, um novo processo de escolha para um novo comandante começou. Várias pessoas levantaram a mão na hora candidatando-se a vaga. O garçom ficou em uma situação difícil:

-Vamos resolver isso da forma mais democrática possível. Vamos sair e duelar. O último de pé será o novo xerife.

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