quarta-feira, 27 de julho de 2011

A arte do Jiu Jitsu é uma arte abstrata...

Durante a minha estadia em Itacoatiara, Amazonas, tive a oportunidade de conhecer um projeto social muito interessante. Tratava-se de aulas de Jiu Jitsu gratuitas na qual para ter direito bastava ter boas notas e estar sóbrio. Cada aluno ali tinha uma história dramática que mudara por conta da motivação esportiva. Um belo exemplo de sacrifício por parte do professor.

Saímos de lá encantados com a grande lição de vida passada pelas crianças e incentivados para participar de noite da aula com os adultos. Até aí estava tudo maravilhoso. Chegamos às 19h, eu de bermudão e tênis e, para piorar, acompanhado de algumas testemunhas. Não poderia ser tão ruim. Era uma aulinha só. Dava para encarar de boa. Tirei os grandes sapatos que cobriam o meu pé gigante e levantei-me animado:

-Espera! Um aviso importante. Se entrar no Tatame só pode sair quando a aula terminar - Alertou o professor.

Eu olhei para os dois que me acompanhavam. Um já era aluno da modalidade e o outro estava no mesmo nível aventureiro que eu:

-Vamos?

-Por mim tá de boa - Disse o Hamilton, o que estava no mesmo barco que eu.

Cumprimentamos a todos e sentamos completando o círculo de alunos. O mestre me olhou meio curioso:

-Vai fazer a aula de óculos mesmo?

Ele tinha razão. Eu poderia quebrá-lo e, por precaução, deixei o objeto com uma das testemunhas que assistiam sentadas fora do Tatame. Guiado pelo meu censo de direção e pelas manchas amarelas simbolizadas pelo uniforme do Projeto Rondon voltei ao meu lugar na roda. A aula começou com um exercício simples, um tal de sapinho. Um pulo de pé e uma flexão deitado. Uns 50? Ah, moleza. Eu já estava completamente suado por conta do calor noturno do Amazonas. Hora de deitar. Descanço? Tá longe disso. Era a hora dos abdominais. 1, 2, 3, 4... Todos gritavam em coro... 20, 21, 22... Não dá para contar mais rápido não? 48, 49 e 50! Ufa, acabou a bateria. O quê? Agora só com a mão direita? Puts, beleza então. Vamos lá... 1, 2, 3, 4... Vai, Arisson! Você consegue! Continua firme... 48, 49, 50! Mão esquerda? Puts. Meus cinco graus de miopia não me permitiam observar como estavam os outros dois visitantes, mas pelo posicionamento cabisbaixo era óbvio o desgaste físico. Lembrei de um amigo que queria ter uma barriga de tanquinho e conseguiu após os 40. Seu buchão fazia meio que uma ponta e dava para esfregar a roupa nas dobras dele. Virou um homem tanquinho... 48, 49, 50! Puxei o suor da frente do olho e me sentei. Deixei o Tatame enxarcado. Pensei até em guardar o óleo que estava escorrendo do meu corpo para uma oficina de criação de sabão ecológico no dia seguinte, mas estava tão cansado que desanimei.

Acabou a aula? Que nada. Hora de forçar os dedos puxando cada aluno até o centro da roda pela calça. Fiquei com pena do Hamilton nesse exercício. Ele tinha que carregar pessoas com o dobro do seu tamanho:

-Vamos lá, galera. Mais uma bateria de abdominais - Disse o professor com um sorrisinho na cara.

1, 2, 3, 4... Todos gritavam em coro e era possível perceber vozes com um tom semelhante a risadinha ao Mutley Rabugento. Consegui sobreviver a mais uma bateria fazendo todas as formas possíveis de exercícios abdominais, só não consegui levantar depois disso. Pressão baixíssima e tontura. Lembro-me de ouvir um aluno perguntando para o Hamilton "Rola?" e ele aceitando. Meio gay, mas tem que ser muito macho para aceitar.

Algumas pessoas ficaram em dúvida e me questionaram em relação a eu não ter participado do tal "rola" (deixando bem claro que se lê róla e não rôla). Desculpa aí, mas não me animei para rolar com um homem suado me dando uma chave de braço com um bafo no meu cangote. Optei por colocar meu óculos e ver o vexame dos outros. Se aprendi alguma coisa nessa aula foi que disciplina é importante e que pisar em um Tatame pode trazer consequências catastróficas.

Um comentário:

bb du mal disse...

fico massa mem a galera da academia e do cinema gosto pra karalho brother.Abraco direto de Itacoatiara com 43 graus hoje. Bernardo mas conhecido cm BB du Mal