sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A morte do natal capitalist​a...

E o natal vem chegando com suas cores e luzes. Uma data mística que todo ano é comemorada por todos. Primeiro, pelo principal beneficiado com a festa: o empresário. Ele comemora o natal vibrante e cheio de nostalgia, afinal, é dia de presentear. Depois, celebrado pelos consumidores, afinal, é dia de ser presenteado.

As campanhas publicitárias, as propagandas de fim de ano e até as vitrines dizem o que você tem que fazer para ter um natal feliz, mas será que precisamos mesmo do que é oferecido em uma bandeja e dividido em até dez vezes no cartão? A verdade é que o natal não é mais natal. Os valores se confundiram. O que se comemora é uma festa cada vez mais capitalista.

Mas havia um garoto que não se corrompeu com toda aquela cultura mercantilista. Ele pensava e agia diferente das outras crianças de sete anos. Tinha uma espécie de sexto sentido e via coisas que ninguém percebia:

-Mãe. Por que aquele homem estava dormindo na rua?

-Homem? Aonde? Não vi ninguém. Vamos logo, pois estamos atrasados.

Natal era dia de ir para a casa da tia Joana. A farta ceia foi servida pontualmente a meia-noite, mas o garoto não estava mais lá. O desespero da família foi geral quando perceberam a sua ausência. Depois de minutos de angústia, ele abriu a porta e entrou como se nada tivesse acontecido. Ao seu lado o homem invisível. Toda família permanecia em silêncio e atenta aos dois que entravam de mãos dadas. Inexplicavelmente, nesse instante, o homem tornou-se visível:

-Agradeço o seu convite, garoto. Mas, como eu disse antes, acho que não é uma boa ideia.

O velho deu um sorriso para a criança e foi saindo desconcertado:

-Espere! Espere! Tenho algo para você - Gritou o menino.

O garoto correu para o quarto e deixou o mendigo na companhia de diversos olhares famintos, que o julgava da cabeça aos pés. Quando voltou tinha um pequeno cobertor no colo, que pisou na ponta várias vezes enquanto corria:

-Toma. Pode ficar com esse. Eu tenho dois. Ganhei um do Ben 10.

E, nesse momento, o homem visível tornou-se um ser humano. O velho apenas sorriu da ação do garoto:

-Não se preocupe, garoto. Pode ficar com o seu cobertor. Eu me viro com o que tenho. Mesmo assim, agradeço de coração.

O mendigo se despediu novamente e foi se retirando com o olhar baixo. A mãe interviu:

-Espere!

O velho olhou assustado:

-Você não gostaria de comer algo antes de ir?

E o natal deixou de ser uma campanha publicitária. O verdadeiro espírito natalino era degustado pela primeira vez naquela noite. Os presentes já não tinham valor para quem recebeu. Aquele homem invisível mudou o conceito da festa. E o garoto deixou de ser alguém que pensava diferente. Naquele momento, ele era alguém que pensava certo.

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