segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O passageiro que desafiou o MacGyver...

Faz tempo que quero abordar isso em meus textos, mas a correria de fim de ano não me permitia: Metrô em greve. Me mudei a cerca de um mês para Taguatinga e tive um período de experiência no qual a tecnologia provou ser capaz de mudar minha vida. Antes eu passava mais de uma hora e meia no ônibus admirando o excesso de faróis e andando a cinco kilômetros por hora. Depois da mudança, consegui cheguar pela primeira vez em casa antes do sol se por.

Tá, eu assumo que o horário de verão ajudou um pouco, mas o fato é que o metrô é uma opção rápida, pouco prática, mas rápida. Saía do trabalho com um sorriso no rosto e ia para casa ouvindo uma musiquinha, afinal o metrô é bem mais silencioso que os ônibus velhos que encarava.

Mas o que eu não sabia era que participava agora de um esquema maior que eu. Mau sabia eu que o colete-a-prova-de-balas nada protege contra os efeitos do tal trem bala. E foi então que o benefício se foi, assim como chegou, de surpresa. O metrô do Distrito Federal estavam em greve e apenas 30% da frota estava circulando.

Já tive a oportunidade de ir a São Paulo e experimentar pegar um metrô de manhã durante o horário de pico e aprendi muitas coisas lá em relação ao transporte. Primeiro: não é nada fácil encarar essa missão com uma mala de viagem e quase 100 livros junto ao corpo. Segundo: sempre cabe mais um na próxima estação. Terceiro: que as pessoas que não fazem um treinamento de futebol americano devem tentar descer na estação anterior para conseguir sair na estação correta.

Foi lembrando desse instinto que nem o Sylvester Stallone teve ansia de desafiar que decidi dar um basta. Não iria encarar o engarrafamento do EPTG dentro de um ônibus barulhento. Eu pegaria o metrô naquela noite.

Como missão dada é missão cumprida (ou melhor, comprida), esperei um pouco mais que o normal pelo transporte, mas ele finalmente chegou. Ao contrário do sistema de São Paulo, no qual você tenta garantir vaga para o próximo trem, entrei já de primeira. Tive que dar uma acoxambrada básica na senhora que estava a minha frente para a porta fechar com tranquilidade. Ela deu um sorriso, acho que o meu celular superbolachão a assustou, sei lá. Até agora não entendi direito o porquê.

Escolhi a posição mais confortável para ser imprensado e lá fui eu com um destino certo. "Estação Asa Sul. Destino Samambaia", dizia uma voz do além. "O que? Esse metrô vai para Samambaia? Deixa eu descer", disse uma senhora do outro lado do transporte assustada. E começou um pane dentro do trem. "Retificando. Destino Ceilândia", disse a voz do além. "Ah sim!", responderam todos aliviados voltando a posição anterior de pinguim esmagado.

Mesmo imprensado contra o vidro, a situação era melhor que a do EPTG, ou até mesmo que encarar o metrô em dia gratuito, como o próprio aniversário de Brasília. Vi uma cabeça conhecida entre dois suvacos estranhos:

-Thayane? Você por aqui. Que diferente.

Eu até a comprimentaria, mas as mãos estavam ocupadas e, tecnicamente, eu já estava abraçando a senhora que estava a minha frente. Puxei logo um papo mais aberto:

-Tudo bem com você?

-Sim, sim. Graças a Deus. E com você?

-Bem, passando por um aperto, mas depois de quatro estações tudo vai voltar ao normal.

A conversa foi bem rápida e logo ela desceu, ou pelo menos eu acho. Ela sumiu do meu campo visual. Logo chegou a minha vez de sair e consegui com tranquilidade, já que todos desceram na mesma estação e fui carregado até a saída. Lá fora fiz um check up geral. Carteira, tá aqui. Mochila, tá aqui. Celular, tá aqui... É, acho que não esqueci nada.

Obs.: Se alguém tiver encontrado uma cabeça perdida no metrô, por favor, entre em contato.

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