quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Um meio ambiente ecológicamente incorreto...

Um feriado cheio de festas e comemorações carnavalescas. Era óbvio meu próximo passo: fui me isolar em uma cidade rica em ecologia chamada Lagoa Santa. Lá, na divisa entre Goiás e Mato Grosso do Sul, pude sentir a adrenalina do novo, de me aventurar e conhecer novas pessoas. Uma cidade minúscula, mas inesquecível.

Nunca esquecerei das festas culturais nas noites e da beleza que aquela água transparente fazia questão de não camuflar. Saí encantado e ouvi uma voz em segundo plano que não era dos que me acompanhavam na viagem:

-Oi, amigo!

Olhei aquele senhor de óculos escuro, mas não reconheci. Talvez ele tivesse me visto no hotel ou na festa da noite anterior, onde ficamos populares na cidade por conta da nossa animação:

-Me diz uma coisa - Dizia ele - A água hoje tá limpinha?

-Como?

-Perguntei se a água da lagoa tá limpinha.

-Hamm... Sim, está. Essas águas são super transparentes.

-Nossa. É que ontem ela estava sujíssima. Tava horrível.

O que ele dizia não fazia sentido, afinal, nem com alimentos é permitido entrar. É possível ver as pedras e peixes com facilidade:

-Sério? - Respondi tentando conter a ironia existente no que eu dizia - Que estranho. Alguém deve ter limpado então.

-Pois é. Acho que foi por causa da chuva. Eu cheguei até a pegar na sujeira. Tinha lodo em todo lugar.

Segurei o riso e me despedi enquanto caminhava. Lodo? Desde quando meio ambiente é sujeira? Se for assim, tecnicamente, a natureza seria um lugar muito sujo.

O estranho é que vários turistas pensavam assim. Na piscina de um clube da região uma mulher também reclamou da vegetação que se soltava do fundo da lagoa:

-Estava horrível. Acho que não limparam.

E não é que fazia sentido todos os comentários e críticas estrangeiras? Pense bem. A natureza é um quarto de adolescente, ninguém limpa. Não vi nenhum mergulhador lustrando as pedras ou sequer varrendo a poeira do litoral rochoso. Adotei o espírito exigente dos turistas e arrebitei o nariz. Cheguei em um funcionário da área ecológica com o dedo indicador esticado e uma cara de agente do CSI:

-Olha só isso.

Mostrei o dedo sujo de terra:

-Isso veio daquela árvore ali. Vocês não limpam isso aqui não?

O funcionário suou frio e abaixou a cabeça. Não conseguia me olhar nos olhos:

-Não adianta puxar a terra para baixo do tapete, meu jovem. É preciso uma faxina para deixar isso aqui limpo. Olhe só essas pontes e passarelas de madeira. Vocês precisam de algo mais moderno. Vou chamar o Niemeyer para dar umas dicas. Essas árvores derrubam muitas folhas, arranquem tudo. Retirem essas pedras sujas do fundo da lagoa e coloquem cerâmica. Agora sim. Isso é natureza.

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