terça-feira, 7 de agosto de 2012

As maiores e melhores derrotas da minha vida...

Não consigo parar de pensar em um moleque que me deu uma surra no Playstation e me fez repensar no conceito de diversão. Um garoto de 15 anos que por dentro não passava de um moleque como eu. Em nosso último encontro, ele me disse:

-Quando puder, vem jogar de novo comigo.

Eu sorri e respondi:

-Final de semana que vem estarei aqui e ganharei de você.

-Sério?

-Claro. Não só virei, como também trarei um presente pra você. Um boneco que é a sua cara.

-Nem sei se eu estarei aqui na semana que vem. Vou ao médico e talvez eu receba alta e vá pra minha casa.

-Não importa. Você vai voltar, não vai? Vou deixar em um bolso da minha mochila. Quando eu te ver, te entrego.

Não era a primeira vez que perdia dele. Em outras oportunidades experimentei o gosto da derrota, que não tinha um sabor ruim. O sorriso no rosto dele mostrava o valor daquelas horas defendendo-me ao máximo para não levar um gol. Naquele dia houve um desencontro. Fui cobrir a entrega de uma doação, mas o evento foi adiado e fiquei horas esperando. Horas que para ele foram ótimas. O garoto era um craque no futebol. Infelizmente, era um grande jogador com um controle na mão, consequência da amputação de uma das pernas. Assim que recebi uma ligação informando que o evento seria em outro dia, peguei minha mochila e me despedi:

-Vamos jogar só mais uma.

-No sábado jogamos.

-Tá com medinho é - Disse com um tom irônico.

-Você que deveria estar com medo, vou chegar aqui afiado no sábado e te dar um banho...

Ele sabia o quanto eu queria ficar e perder novamente, mas o dever me chamava. Após chegar em casa peguei aquele boneco e o deixei no bolso lateral da mochila, como combinado. A semana passou rápido e no final de semana liguei para saber se aquele garoto estava lá. A notícia era que estava no médico e naquele sábado não o vi. Semana seguinte ele não estava lá e fiquei feliz em pensar que estava em casa. O boneco ficou no bolso lateral na esperança de encontrá-lo. Esse era o combinado.

Hoje tive uma má notícia e só então percebi que o boneco parecia mais que fisicamente com aquele garoto. O brinquedo era de um desenho chamado Avatar. O personagem, Aang, é o último dominador de ar e recebe a missão de salvar o mundo, mesmo sendo só uma criança. Sou fã do desenho e ele disse que também gostava. Assim como Aang, ele era careca e magro. Olhei para o boneco e disse adeus mentalmente para aquele guerreiro responsável pelo equilíbrio dos quatro elementos.

Só existe uma hora para se dedicar ao próximo e ajudar: AGORA! Visite um asilo, plante uma árvore, oferte palavras positivas, aceite limitações alheias, faça com que alguém dê um sorriso hoje... Só não perca a chance de mudar o mundo. Só não perca a chance de mudar o mundo de alguém. Não sei se ele já se despediu pensando que não me veria mais, nem se seria diferente se ele tivesse recebido aquele presente, mas uma coisa eu sei bem: aquelas foram as melhores derrotas da minha vida.

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