sexta-feira, 26 de julho de 2013

A lenda do homem com rabo de lobo...

A lua cheia era um vestígio claro de sua transfiguração. Metade lobo, metade humano. O lado racional nunca dominava o selvagem. Seu olhar, consumidos pela fúria, revelava a dor da transformação. Os pelos que surgiam atravessavam a pele como farpas. O grito perdia o timbre e tornava-se rugido. A parte mais sofrida certamente era aquele rabo, que não sabia ao certo de onde surgia e nem onde se escondia ao amanhecer:

- Ahhhhhhhh!

Assim como a TPM feminina, não existia uma maneira de fugir daquele sofrimento extremo. Ele se contorcia e se curvava buscando controlar o seu lado selvagem em vão. Gradativamente, a respiração tranquila registrava o fim do processo. Agora só o lobo dominava. Os caninos a mostra e os dois metros e meio eram o bastante para fazer o Van Helsing chorar como um bebê:

- Auuuuuuuuuuuuuuuu!

O canto do lobo gigante em homenagem à lua assustou Pedro, que atravessava a passagem subterrânea do Eixo Sul de Brasília. O olhar procurou vestígios de alguém seguindo os seus passos acelerados. A pressa tinha dois motivos: era tarde da noite e não podia perder a grande final da Fazenda.

Saiu do túnel e olhou para o céu, admirando a lua fenomenal pendurada no alto. A paisagem foi interrompida por um grande vulto que pousou à sua frente. Parecia ser algo pesado pelo tremor do impacto ou possivelmente era o metrô passando por baixo de seus pés. Já era bem tarde e logo concluiu que não se tratava do transporte público. Na escuridão, os olhos da fera brilhavam como faróis se aproximando. A noite clara foi revelando aos poucos aquele ser que parecia gostar da escuridão. Era um lobo gigantesco. Ou seria um homem peludo gigantesco? Um Toni Ramos pelado com rabo e olhos em chamas:

- Tá louco? Quer me matar de susto? Pensei que fosse um assaltante! - Disse Pedro respirando aliviado.

A fera respondeu com um rugido enquanto seus dentes pontiagudos eram iluminados pela noite. Pedro agora podia ver bem a estatura e fisionomia daquele monstro que se aproximava com as veias a mostra:

- Caracas! Um cachorro gigante! Own, que gracinha! Dá a patinha, dá!

O lobo humano parecia não entender a linguagem meio infantil de Pedro, que lembrava um japonês meio italiano:

- Vai buscar, vai! - Disse lançando um graveto que encontrou no chão.

O lado selvagem dominou o lado racional novamente e a fera se atirou loucamente em busca do pequeno objeto, atravessando a pista e batendo em um caminhão, que tombou com tamanho impacto.

Dona Zuleica já estava no portão do condomínio preocupada com o filho que não chegava em casa. A aflição tinha motivo: ele nunca demorou tanto. Devia ter acontecido algo e temia o pior. Ao ver o filho, correu e o abraçou forte. Após um tremor no chão, voltou-se para o lado e viu um lobo gigante com um olhar de cachorrinho abandonado:

- Posso ficar com ele, mãe! Vai! Diz que sim!

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