segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Com verso ou conversa?

Não sei dizer se foi uma prosa de amigos ou estrofes de colegas, mas o reencontrei em um estacionamento e batemos um papo meio indelicado:

- A crise está feia, hein!

Fiquei em silêncio, mas percebi o desagrado alheio. Para fugir da definição de mal-educado, dei uma resposta tão vazia quanto a afirmação:

- Pois é! Faz parte...

Para mim, o assunto da conversa estava concluído, mas ele prosseguiu:

- Aqui na minha carteira antes tinha nota de cem, agora só tem nota de quinze ou de cinco.

Não resisti a deixa que me deu para um corte de vôlei certeiro:

- Não seria nota de dez ou de vinte? Não existe nota de quinze. 

Ele sorriu desconcertado:

- É que na minha carteira só tem nota fiscal mesmo. Estou sem grana por completo.

Foi a minha vez de sorrir e só parei ao perceber que ele realmente estava falando a verdade. O silêncio garantiu o clima cafona da conversa, que, se fosse um poema, se resumiria a um verso:

- Você pode me emprestar umas moedas? É para pagar o flanelinha?

Era estranho ver aquele homem de terno me pedindo dinheiro, mas busquei nos bolsos um trocado para aquele amigo indelicado. A busca resultou em duas balas de hortelã, chaves e uma nota fiscal amassada:

- Poxa! Acho que vou ficar devendo. Tô sem grana aqui.

- Eu aceito as balinhas! - Gritou uma terceira voz.

Era o flanelinha, que tomou as duas balas da minha mão e partiu. Meu amigo indiscreto me olhou assustado e prosseguiu com seu assunto indelicado:

- A crise está feia, hein!

- Pois é! - Respondi ainda pálido por conta da situação bizarra - Faz parte...


Gostou do texto? Este blog está concorrendo no Prêmio Top Blog. Clique aqui e vote!

Nenhum comentário: