segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Presente de guerra...


Fraco e cansado, Lucas rastejou até encontrar um esconderijo. O sol estava surgindo no horizonte e precisava de um local seguro para permanecer invisível. Era preciso controlar a respiração e até mesmo a ansiedade, pois isso interferia na frequência cardíaca. Irônico olhar para o braço e ver aquela grande ferida estancada. Possivelmente, se não fosse o efeito da adrenalina, estaria se contorcendo de dor.

Os passos pesados ficaram mais altos. O frio na espinha interrompeu a respiração acelerada pós-fuga. O som do coturno amedrontava até mesmo o mais experiente soldado. O barulho ficava cada vez mais alto. Foi quando ele encontrou o esconderijo, encarando-o com um olhar de fogo pouco iluminado pela luz da lanterna.

Em silêncio, os dois ficaram por alguns segundos se olhando. Lucas, um rapaz de 16 anos que foi obrigado a encarar aquele cenário nada acolhedor, ficou sem reação. O soldado permanecia com cara de mal, mas também não demonstrava sentimentos.

O homem pegou uma arma e apontou para o garoto. Mataria o rapaz à queima-roupa, porém, não puxou o gatilho. Parecia viver um conflito momentâneo. Algo o impedia de atirar:

- Sua sorte é que você parece muito com o meu filho! - Disse o homem antes de guardar a arma e continuar caminhando pela floresta escura.

A vista grossa do soldado trouxe um alívio momentâneo ao moleque assustado. A respiração dele acalmava junto com o som dos passos do inimigo, que já estava fora do campo de visão. Ainda precisava de um novo local para se esconder. Perdido e sozinho, Lucas ganhou um presente muito especial naquela cena inusitada: mais algumas horas de vida.

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